sexta-feira, agosto 15, 2008

Sem anjo da guarda










Passei o dia com medo do mundo
Em casa, na cama prostrada
Feito uma doente
Depressiva, depreciada por mim
Com toda ausência da qual sou digna
À espera de outro dia amanhecido
Para comê-lo feito pão
Só, tenho fome de nada
Desmereço qualquer companhia à mesa
Estou surrada em camisa
Cabelos sem pentear há semanas
Unhas imensas imundas que me aprazem
Ao coçar a pele em pelo duro
Meu sexo ferido me impede de foder
De novo com o vizinho, que grita com outra
Do lado de lá dessa parede fina
O teto de cal está preto
Cai toda fuligem sobre mim
Também a goteira em minha testa
Ao chover a cada cinco luas
TORTURA CHINESA
Olho para meu corpo amarelo
Pensando meu rosto chupado
Que não vejo desde que adoeci
Espelhos custam caro, água limpa vale ouro
Nem sei porque até então sobrevivi
Sou a própria personificação da moléstia
Uma réstia de bunda mole caída
A eva cu ar gases tóxicos
PLASMOSE

Invento nomes para ser dileta
Já fui Clarisse, Virgínia, Niágara...
A gata triste
Que subiu no telhado de vidro
E se cortou no meio
SOCIAL
Perdeu as sete vidas mansas
Dormindo o sonho eterno sem miau
Manias de rima, - TOC TOC!
(TRANSTORNO)
Faz isso para ocultar sua ânsia
Casando palavras tal amantes
Como se fosse possível qualquer perfeição
O seu fundo é superficial
Chora, paralítica, sifilítica
Quer ir embora, mas deus não vem
TRAVESTIDO DE MORTE
(Alguém bateu a porta)
Terá de esperar agora 9 meses
Para dar novo ânimo
Em nome do pa pai mais que do filho
Porque me ilho, cercada de todos
Por nenhum alado

Um comentário:

Vanessa B. disse...

Adorei esse aqui, em especial. Nunca tinha pensado em comer o dia como pão. Mas adorei essa expressão!

(Porque as frases do dia em rádios populares, a tocar no ônibus de manhã, não dizem essas coisas?)