terça-feira, abril 17, 2007

Trova ao trovão


Ele disse nada vão. Até assustou-me com o grito grave por sobre as nuvens com seus pesos de consciência. Se os escribas não tivessem posto pesos de papel na contrariação do vento, a tormenta teria sido mui pior. Chuva de palavras na boca de um Pedro São, tempestade num cópo de cólera. Natureza desafiando humanidade sob a concepção punitiva cristã de que o fim está cada vez mais próximo. Orei ontem às ocultas, em meu ocultismo pouco culto no quarto, antes de dormir, com as palmas unidas em aplauso fechado ao além e joelhos dobrados sobre o colchão morno. Lembram dos desabrigados friomintos? Eu já havia posto a ceia no ventre sem pensar na alheia fome quando um raio cruza o céu de repente e me engasga. Blackout. Volteei-me de amigos, nós gelados de pavor da fúria cosmogônica demos as mãos, passamos corrente, queríamos acender alguma luz com nossos polos opostos em união absoluta e absorta. Calmaria momentânea. Se não resgatarmos a poesia do espírito, a carne morrerá na praia sem tomar banho de sol.

Um comentário:

literaria disse...

Belas palavras, parecem terem sido escritas ao maio-dia.