
Ontem fui presenteada com rosas vermelhas, mas pelo próprio vendedor de flores. A ironia do destino mais perfeita! Se fosse um buquê de namorado não teria a mesma graça. Por isso fiquei extasiada, dormi com o presente do meu lado sem me entristecer com o murchar daquilo na semana seguinte. Isto porque, melhor que guardar lembrança concreta, é reter o perfume na memória. E o óbvio galanteio pronunciado pela boca do imprevisível possui maior beleza. A efemeridade de uma planta refloresce na poesia dia a dia, enquanto a eternidade no centro das mesas dos doces lares burgueses é de plástico e denuncia na poeira.
Alianças amarelas espantam outras pessoas. O casal tende a ficar alheio, restrito a um convívio a dois, perpetuando um tédio de ouro maciço. Vejam o exemplo da madeira, mais maleável e fria, construidora de portas. Há sempre alguém querendo abrir uma, pois por outro lado há quem a tenha fechado. Há sempre quem espere do lado de fora, mesmo após ter batido, e também quem não esteja lá dentro. Tem sempre alguém ouvindo atrás da porta e um outro preso à espera de mais um que arrombe. Alguns optam por estarem presos por vontade, quando subitamente bastam pontapés para arruinarem com qualquer privacidade. Por essas metáforas da vida real que se é preferível às vezes morar numa casa sem portas.
São justamente esse escancaramento e esse convite subentendido que espantam o homem acostumado ao superficial. Por isso há tantos ladrões de coração, porque não se abrem mais portas, só fabricam. O que se segreda, segrega também. Faz atiçar a curiosidade que matou o gato. Trocando em miúdos, o que andei a discorrer aqui foi acerca de respeito à individualidade e o reconhecimento desta na alteridade. Ninguém é tão arcaico feito peça de museu para se dizer intocável, nem tão moderno a ponto de rasgar a tanga de toda regra. Então, sejamos civilizados!
Paola Fonseca Benevides,
(Estado Civil: SOLTEIRA)
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