sexta-feira, setembro 01, 2006

Será que vai chover?

Eu não sei o que irá acontecer com minha felicidade, aliás, ninguém sabe. Nem da sua própria... E o que é felicidade senão uma satisfação momentânea, mais parecida com uma droga que te põe pra cima, ali, naquele instante, depois mais nada? Tem de se aumentar a dose, do contrário, o corpo e a alma ficam mal acostumados, sem efeito nem causa. Um tédio só.
Caso a felicidade não se torne um vício, é necessário o comedimento das alegrias? Difícil. Todos cansados de crises depressivas acabam se apoiando depois em crises de riso.
Um ideal de simpatia é bem quisto por todos, é modelo vigente da sociedade apta a mascarar seus prantos. Qualquer dia inventam um aparador de lágrimas à base de estendimento labial. Tem-se sempre de parecer o mais o mais belo e contente ao outro, jamais se abater. Porque quem se abate é visto como fraco, a carne fraca vai direto pro abate. Menosprezada, repelida, expelida dos grupinhos feito fumaças dos pulmões. Querem todos homogêneos, átomos interligados por um elo mais forte, um gênio, um líder, da mídia, da mística, um deus, um guru, um suposto amigo, um ente próximo, de personalidade mais vívida que os demais. Quase todos inseridos na mesma lombra, com sorrisinhos fáceis. São uns derrotados, na certa. Acham que estão em boas mãos, se isentando de qualquer responsabilidade, depositando o si no cabeça por julgá-lo o mais forte. Por outro lado, há os que se gabam feito reis, detentores da verdade absoluta. Escarnecem de seus súditos pelas costas, em falsa valentia. No fundo talvez reconheçam sua fragilidade. Sabem que, se forem descobertos, acabarão solitários feito as suas leis. Com frio, miseráveis.
Pode ser a felicidade mais bonita, vai do gosto ou do desgosto de cada um. Mas se for repetida, passará feito um trovão ao pé do ouvido de um cego-surdo, achando se tratar de manhã de sol. Aquela sensação mínima e óbvia apenas. Às duras penas, aliás.
E essa busca eterna, por vezes inconscientemente coletiva, é tarefa para os mais criativos. Vão inventando peripércias, teatro, comédia, paixões e bebida. Complicado é manter isso tudo, sustentar esses filhos do acaso com o preço alto do viver. Nem quando a vida é curta. Começo a entender alguns porquês e a estender a culpa ao maniqueísmo. Essa tendência de achar que sofrimento é quase morte, quando se trata da sorte, de um torrão de sal em meio às pedras de açúcar. O fácil é insosso, melhor dar um banho de sal grosso, deixar a maré lacrimosa conduzir um pouco o leme. Que passa. Passa a dor, vem o desfrute. Passa a esperança, vem o desgaste. Do tempo, a velhice. Saber ter vivido é que são elas: vida e morte. O arrependimento também passa. Rodando tudo. Plantando os ossos. Até que o universo um dia pára e vomita, parindo outros mundos, quem sabe, felizes.
Para sempre.

Nenhum comentário: