quinta-feira, abril 13, 2006

Falem-se, agora eu vou calar!



Ninguém respeita o meu silêncio
Ninguém entende o fato de eu mastigar idéias
de boca fechada

Bando de mal educados falantes de boca repleta!
Desperdiçam tanta palavra e se repetem tanto
Deixem-me aqui com minha política
de longos discursos não pronunciados!

Há meios de se dizer muito sem enfastiar os ouvidos.
Quem fala não consente, eu calo, e só eu sinto.
Deixem que minha voz permeie a música e se faça escrita!
A eloqüência está em minhas mãos... Cheias.
A conseqüência da verborragia são as bocas secas
Por isso eu prefiro dialogar com o silêncio
E ao contrário dos que muitos julgam isto ser passividade
Passo os meus reclames na atividade do verso
Travo segredos ao universo
sem precisar berrar belicamente.

Eis que esta particular beleza não dita regras
Ela está na natureza das flores
coloridas de perfume INsenso

No sono das crianças condenado por ser pureza
No amor abafado que transparece os olhos
No calor e no calar mútuo de um beijo liberto
Na contração do sexo recolhido, acolhido pelo outro
Na metamorfose eterna do mundo, da lua fásica
Na fotossíntese, na metafísica
Na síntese de todas as línguas numa linguagem una
Em que todos se entendem mediúnica compulsivamente
Na surda pulsação d'um ser que não é cadáver ainda
Nem, muito menos, inocente.
Deixem-me fazer do silêncio mais que um minuto
Desobstruir a poluição canora com o meu luto
Nem preto, nem branco, nem bom, nem mau
Mas meu, além de quem luta com ares de absoluto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vi esse texto na comunidade "maria caladinha" e adorei... vc disse tudo..! parabéns seus textos são ótimos...
Beijos