domingo, outubro 02, 2005

NADA SEI

O que sei eu da vida?
Coisa genética inautêntica herdada do passado
Composta de ovo, semente e passagem...
E das crianças inauditas?
Passarinhos a correr vadios, pululando sonhos
No colorido de uma amarelinha fronteiriça...
E eu sei do homem?
Criatura criadora da cópia do intangível
Subjetivo mundo irascível das idéias...
E desse planeta convexo?
Esfera giratória tonta do azul da linha imaginária
Complexo mapa achatado nos pólos suspenso no ar...
E sei eu do vento?
Farpa aveludada que transpassa o poro ressequido
Beijo voador que eriça pelo, estremece, intumesce mamilo...
E do colorido esquipático?
Prismática beleza cega refletindo mágicas ilusões azuis
Num róseo cinzento olhar amarelecido pelo tempo...
E eu sei do tempo?
Enguiçado pêndulo de vai-e-vem hipnótico
Ampulheta decrépita que corre olhando para trás...
E das canções sonantes?
Mudos êxtases rítmicos de corações percursivos e cantantes
Que deixam os dançarinos com seus corpos saciados...
E sei eu da paixão?
Epidemia feromônica de salivas fervidas em gozo brando
Rasgos vermelhos na carne vulcânica das almas enfermas...
E dos loucos poetas?
Gênios malditos absortos no absinto da eternidade efêmera
Marginais na gaiola, sem pena recitando versos livres
Bardos prestidigitadores da eloqüência lírica
Rosas sanguinolentas desabrochando intrépida luz
Traças num banquete de livros antropofagiando palavras
Vestígios de vida dos brinquedos das crianças
Um homem só um mundo moinho de vento e cores famélicas
Não temem o profundo elemento das dores bélicas:
O Silêncio. Intervalo entre a música e a solidão.
E eu sei de mim?
... ... ...
NADA SEI NADA SEI NADA SEI NADA SEI NADA SEI NADA SEI NADA SEI

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