sexta-feira, agosto 18, 2006

ressuscitAME!

Há muito, muito tempo atrás, já cheguei a acreditar que o romantismo, em sua acepção mais piegas, fosse algo extrínseco à minha realidade. Um seco. Uma fuga, deveras, característica tão fundamental a todos os românticos não confessos. Contraditoriamente, pertencia à categoria dos ultra, de um mal-do-século mega contemporâneo, almejando aquela tuberculose típica capaz de findar a minha existência moça de dores súbitas e delícias parcas. Platonismos, delírios calados de quem parecia curtir uma fossa por puro comodismo, carência ou pose. Sem saber, escrevia. A introspecção me dragou ao invés do ópio gotiquesco, daí meu apego às letras tal um vício. Continuo com elas até hoje, com a introspecção e com as letras, porém, amadurecida, um tanto mais ousada, como tem de ser os 21 anos de uma menina-mulher um tanto quanto rebelada - eis o que me revela. A revolução foi se operando em mim feito sutura de agulha no palheiro injetada à carne cicatrizada. Nem percebi quando a seta invisível d'um sentimento novo corrompeu minhas portas burra e bruscamente trancadas com a chave dentro, sufocando o latejar da propulsão da vida. Fui surpreendida por um golpe de mágica, um arrombamento pelo lado esquerdo, aliviando assim o pássaro vermelho em seu bater de asas tímidos. Com o declinar da ampulheta, aprumou-se, até alçar um vôo magistral... Quando desesperou, não viu. Quando não esperou, surgiu. Sumiu-se da gaiola. E porque agora vivo mais que qualquer ave ávida de sentido, só enxergo um palmo desse horizonte inteiro pela frente. Pode vir o sofrível, mesmo sendo indelével, estou mais do que disposta. Tudo faz parte desse todo chamado universal-açúcar. E este me chama agora para ver enchamear o vento, crescer o ardor da paixão magnífica. Pés no chão para sentir a natureza do que não podemos modificar e do que trasformamos, dando essências, formas, cores. Nascendo, morrendo, ressuscitando.

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