domingo, abril 23, 2006

O Andarilho



Lá se vinha ele a caminhar na estrada erma, cheio de malas pendidas. O suor brotava do rosto feito fonte d'água salina que ele mesmo sorvia de tão inundado à boca seca. No que ele pensava com aquele ar quente de cansaço? A tranqüilidade calcada a cada passo parecia a mesma da volta pra casa depois de um dia nem bom nem ruim de rotina. Só que o semblante, vivo, decidia algo novo à sua volta. Seria revolta? Sim, uma outra volta no parafuso perdido, de volta pra casa da sua própria esquina, ao paraíso achado na curva tênue de um eu em uma asa comprimida e que agora se desprendia. As malas deitam, uma a uma, sobre o vapor turvo do asfalto. Ele não olha para trás, nenhuma dor, nenhum apego. E ele simplesmente nada leva, porque simplesmente se deixa levar. Vai assim, voa, batendo as asas meio amassadas com um destino certo na cabeça: o elevado.

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