domingo, setembro 25, 2005

CARPE DIEM

CARPE DIEM
Nuno Júdice (1949)

Confias no incerto amanhã?
Entregas às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma substitua
o riso claro de um corpo que te exige o prazer?
Fogem-te, por entre os dedos, os instantes;
e nos lábios dessa que amaste morre um fim de frase,
deixando a dúvida definitiva.
Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos.
Porém, nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraça a própria figura do vazio.
Então, por que esperas para sair ao encontro da vida, do sopro quente da primavera,
das margens visíveis do ser humano?
"Não", dizes, "nada me obrigará à renúncia de mim próprio
- nem esse olhar que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes se confunde
com a brevidade do verso.

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