Há tempos não proporcionava ao meu espírito um banho tão delicioso de liberdade. O último feriado comprido infelizmente não fora tão comprido quanto à estrada que peguei, mas as catorze horas que passei longe de casa e da cidade, próximo dos amigos e da natureza foram por demais compensadoras. Fui acordada às cinco da manhã por um despertador estridente que me fez ficar indecisa sobre a cama a pensar se seria melhor eu continuar de olhos fechados, fechada em meu quarto. Até que decidi tomar café e uma atitude: pus a mochila nas costas e encarei um ônibus pra Pacatuba! Só de sentir o vento adormecer minhas bochechas e assanhar meus cabelos já me fez sentir a vida entrar pela janela. Vi pastos, flores, indústrias contrastarem com casebres, o céu aberto com algumas nuvens, montanha. Fomos fazer uma trilha na serra de Aratanha, 800m. Caminhamos pela cidadezinha tirando fotos e sarros saudáveis uns com os outros até adentrarmos a mata íngreme. Em pouco tempo de percurso, começava a transparecer sintomas típicos de uma ociosa inveterada. As paradas foram se tornando cada vez mais constantes. A água das garrafas escasseava na medida em que nosso reservatório corporal evaporava em suor. Os músculos doíam, a pele avermelhava, as conversas diminuíam por conta da respiração dificultada. Encontramos outras pessoas, ciclistas com suas mountain bikes, cachorros perdigueiros, várias espécies de plantas diferentes, burricos, fezes de cavalo, pedras de todos os tamanhos e fontes frescas que aliviavam o calor e amenizavam a poeira. Lembramos do acidente aéreo que ocorreu 23 anos atrás com o empresário Édson Queiroz e ainda nos deparamos com alguns destroços. Eu, com a euforia curiosa de uma criança, escalei algumas pedras e árvores lodosas para alcançar a turbina do avião. Tirei uma foto sentada naquela ferrugem e prossegui a caminhada. Alcançamos um mirante e vislumbramos a cidade inteira. Mais fotos e o risco, à beira de um penhasco. Depois, casebres rústicos e um belo lago no meio do nada. Pausa para um banho. De lá, a volta. A decida foi muito cômica e pouco trágica. Derrapei e caí de bunda no chão, poupando os calcanhares, já que havia quebrado o pé direito uma vez. As pernas de todos começaram a tremer involuntariamente, um amigo escorregou e ralou o cotovelo, outra amiga teve uma forte dor de cabeça, mas valeu a pena. Quase ao final, demos nós seis as mãos, formando um círculo naquele emaranhado verde em agradecimento à natureza, por termos sobrevivido à aventura. Exaustos, chegamos à rodoviária à noite, debaixo de uma lua cheia imensa e fabulosa. Finalmente o ônibus e a volta pra casa. Fantástico!
Nenhum comentário:
Postar um comentário