quarta-feira, julho 22, 2009

10 odorantes depois

Laranjas podres, laranjas podres. Onde, onde? Perigo. Quase sempre não as vejo, mas estiveram ali há uns dias nauseantes. Por que laranjas são tão baratas? Não são a preço de bananas apenas por serem laranjas. O cheiro que fica nas ruas baldeadas em lixo é cítrico. Há uma excentricidade no chorume das calçadas. Todo mundo as sente quando vem o caminhão, os homens com sacos, rasgos de unha canina, última chupação de gomos nas sobremesas de casa aos self-restaurantes. A gente pula o visgo negro que chora nas embrenhaduras das sargetas para não restar na sola o resto do que se joga fora, do que não mais se come. Só que hão mendigos, hão carroceiros à procura de suas latas-papelões-plastificantes e se deparam com o impregnante indício do que pereceu, mas não foi. Fossas, lá estão eles nelas, desembocando pelas fuças nasais a razão de seus resistenciais conflitos. Olha o pretume da canela daquele homem, olha o banho roubado da torneira em frente ao transpassar dos outros, dos carros. Invisíveis, mas se vão nus são presos. Enquanto segue o curso do canal, os indigentes esfregam suas carnes sujas, a água escoando. Chuva tenta esclarecer, e vai à lama.

Nenhum comentário: