terça-feira, dezembro 16, 2008

O previsível imprevisto

Despertei cedo mesmo na manhã sem maiores compromissos. Iria dar um jeito nos cabelos, já que o ano está por se findar e não pretendo estar com a mesma cara no outro. Pus uma roupa qualquer, bem usada durante a semana, e rumei até o salão mais próximo de casa. Tempo nublado, calor insistente. Bati à porta. Silêncio... O ar me dizia alguma coisa pesada. A cabeleireira, que ouso chamá-la de amiga, - porque de tantas horas com suas mãos em minha cabeça e de tantas conversas sobre beleza e vida, hei de considerá-la uma boa amiga sim - lá se vinha ela chorosa de dentro do recinto para me abrir a porta. Estava no telefone, volteada por nuves escurecidas, quando desligou e me disse que seu irmão havia falecido. Olhei bem para dentro de seus olhos rubros, uma lágrima grossa se alojava no canto de uma das pálpebras, quando me disse como se dera a morte. O rapaz, por volta das seis da manhã, fora arremessado em pernas, braços, tronco contra uma carreta.

Naquele instante, minha memória me conduziu ao dia 13 de Dezembro, sábado passado. Meu pai me levava para casa, quando avistamos um corpo pequeno coberto com um lençol fino, minando sangue pelo asfalto da Av. 13 de Maio. Os policiais parados, as luzes altas das sirenes, tudo aquilo me doloriu o estômago. Não sei quem é capaz de se acostumar com a morte. Trágica. Senti-me frágil. E hoje, meio sem jeito, dei um abraço em minha amiga. Pêsames através de palavras a meu ver são menos válidos que a troca de energia confortável. Estou triste, muito triste pelo outro. Não sou próxima desses desencarnados, mas me dói profundamente.

Minha amiga me contou o quanto seu irmão parecia feliz um dia antes, ele que morava com a mãe já bem idosa e a ajudava de todas as formas. Na sensibilidade a gente acaba por interpretar qualquer gesto prévio assim como um sinal, um aviso. Vai ver que era. Desacredito em pouca coisa agora. É lei natural a morte, todo mundo possui essa certeza infalível, porém, acostumar-se com o imprevisto previsível, dificilmente. Vou orar em coração pelo espírito deste pobre desavisado e pelas almas viventes sofridas. Deus o tenha, Deus nos tenha a todos em sua proteção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paola, que blog lindo! Eu li por enquanto apenas um texto teu e fiquei maravilhado. À noite, quando eu tiver mais tempo, vou ler o blog todo. Eu too gosto muito de escrever contos e poesias, leia minhas coisas, o meu blog ainda está com pouca coisa, mas já tem algo a ler, beijos. Você escreve muito bem, é espontânea,,,