sexta-feira, junho 16, 2006

OVERDOSE CEREBRAL


Não resisto a um espaço em branco, a um passo em falso. Quero sempre preencher, endireitar. Uns falam em perfeccionismo, outros dizem ser obsessão. Há ainda quem insista na presença constante de conotações sexuais em minha arte. Deve ser coisa da cabeça deles, nem Freud explica. O que ele sabe das mulheres? Está o sexo em toda parte. Tiro a conclusão ao passar perto dum poste fálico que se apaga ao adentrar qualquer porta. Até em minha expressão, mesmo não expressando nada, imprime algum mistério. O nonsense faz sentido.

É aí que está a graça, porque de graça qualquer coisa hoje em dia não se dá, a não ser por paixão. O preço que se paga por amar é gritante. O amor só é cego a quem lhe custou os olhos da cara. E nunca se deve tirar satisfação, nem dever, mas proporcioná-la. Gosto de escrever em primeira pessoa, falar de terceiros é falta de educação. Isso não significa dizer que tenha imenso tesão em falar de mim mesma. Muito prazer, queridos, mas nem tudo o que digo sou eu, tem muito de pretensão também. Quero ser tanta coisa e acho que faço tão pouca.

Se o mundo me cobra, cobro mais ainda de mim. O mundo é uma Anaconda! Tanta gente não faz nada e é rica, geralmente quem é rico não faz nada. O nada é tão incrível que me faz querer aprender a "nadar". "Nadar" acarreta assistir filmes em telões de plasma, comer e beber do melhor, viajar pelo planeta, conquistar uma gama de amigos pedintes, sentir um imenso vazio e passar a viver de caridade como que por culpa. Imediatismos. Tudo demais é prejudicial, o excesso leva ao desgaste e o doce preferido, quando rotineiro e muito, fica enjoativo.

Sei lá, só o que quero é trabalhar com o que gosto sem passar fome e sem gastar tudo com remédio. Saúde não se vende, aluga-se. E todos se preocupam com o umbigo como faço eu neste momento, sem jamais saber se fui lida caso não obtenha retorno. Para quê? Quem lá tem paciência, nem eu me suporto às vezes! "Fui lida"... Tão estranho personificar minhas palavras, tão possessivo isso. Que minhas palavras o quê! Elas são universais! O certo é que nenhuma torta diz "Eu fui comida", pois é fato consumado e consumido: ela sempre foi e continuará sendo comida. Mesmo que ela tome um chá de sumiço, o que fica são os arquétipos, as fôrmas fazedouras de novas tortas seguindo um modelo padrão pré-estabelecido por alguém de status superior no ato da criação. Isso até alterarem a forma, na anarquia fast food do dia a dia. A essência, seja de baunilha ou chocolate, permanecerá.

Então, quando encontrarem a fórmula da felicidade, com certeza alguém dará um jeitinho brasileiro de tirar uma cópia, lançará mais genéricos e o efeito colateral será inigüalável. A verdade é que uns culpam os outros, outros esperam por outrem e pegam o bonde andando, achando que do céu cairá todo o bem. Tudo é relativo quando se trata do absoluto. Talvez pudéssemos ser mais equilibrados se não falássemos tanto em bem, em mal. Tudo está interligado, não vemos quantas conexões são feitas por milésimos de segundo. Tantos planos de segunda mão em segundo plano nas segundas-feiras.

Há um minuto falava de arte, sexo e perfeccionismo, quando só agora minhas células nervosas deram conta de que a perfeição é logo ali. Estou calma, demasiadamente calma. Eu, que há meia hora atrás pensava em morrer de overdose induzida por ingestão de Maracujina líqüida. Absurdo... Que morte patética eu teria, puta que pariu!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Belas palavras...não sou boa de definir o que realmente penso,mas este texto está muito bom.Grande sencibilidade vc tem =)