domingo, maio 07, 2006

A Borboleta Azul


Amanhecia um sol frio enquanto ela se metia no emaranhado dos lençóis irrequieta. Insone, perscrutava de longe a janela quase toda envolta em cortinas, a não ser por uma pequena fresta acesa que lhe sorria. Lá, ainda, uma borboleta de cor azul pousada, ditava-lhe em movimentos alados o abrir e o fechar de suas perniciosas pernas.

Entretanto, mal nenhum havia em afoguear sozinha o ventre. Nos momentos em que não se fazia presente o amante, teria apenas seu instinto fêmeo saciado, tendo por testemunha a natureza.

Ela estava saudosa, podia se ver bem no semblante mal dormido de espera. Assim, não se continha, descontando sua solitude no próprio corpo alvo, alvo de suaves dores e brutais delícias. Suas mãos delicadas, pequeninas, não davam conta de tanto entusiasmo. Parecia querer reger uma orquestra inteira por tamanhos espasmos esbaforidos de virtuose maestrina.

Foi quando alguém bateu na porta ao longe com a força de outro punho revestido de ansiedade. Era ele, ela intuía indo ao seu encontro. Estava agora completa a sinfonia! E sem olhar no olho mágico, já abria os braços a enlear o amado. Nenhuma fala, só risos intercalados de respiração arfada e alegria. Beijos sobrepunham novos beijos, malas e roupas arremessadas ao chão com fúria.

O Amor ardia alto e, das altas chamas em línguas de fogo pronunciadas, um sutil vapor os enternecia até aquele quarto. Todas as portas dos poros se escancaravam a chorar poções encantadas aos cântaros, em poças nos cantos das bocas esfaimadas, sorvidas tão plenamente pela alma. Até a noite, até o dia seguinte, de hoje em diante, até sempre e mais...

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