quarta-feira, novembro 02, 2005

Anaïs Nin a falar por mim

Sobre a arte de escrever:
“Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar a cada vez que a vida me destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte”

"(...) Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem no labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos
sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os
pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo meu universo se reduz;
sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo respirar".

Sobre a “mulher do futuro” – em uma conferência apresentada em 1974:

“A mulher do futuro, que já começa a surgir, será completamente livre de
toda culpabilidade diante da criação e do desenvolvimento da sua personalidade.
Ela viverá em harmonia com sua própria força, sem passar por masculinizada,
excêntrica ou antinatural. Imagino-a muito segura de sua força e de sua
serenidade; ela saberá se dirigir aos homens e crianças, que às vezes a
temerão. (...) A mulher do futuro não será uma criança. Ela não tentará viver
através do homem, levando-o ao desespero, em busca de uma realização que apenas
a ela cabe efetuar. Esta é a minha primeira imagem a nova mulher – ela não é
agressiva mas serena, segura de si, confiante, capaz de desenvolver seus
próprios talentos e de conquistar seu espaço.”

Sobre a ação/criação em grupo e contribuição para a vida coletiva:

“Como eu, o Dr. Rank (ela se refere ao psicanalista Otto Rank), achava que a ação em grupo enfraquece nossa vontade. Ela pode nos consolar da solidão, mas não estimula a vontade individual da criação. É preciso estar bem consciente disso antes de se engajar na ação coletiva. Para ele (Dr. Otto Rank), o ideal seria que a vontade de criar fosse capaz de resistir a todo tipo de lavagem cerebral. Várias vezes vi mulheres trazerem para os grupos apenas seus problemas pessoais, suas neuroses, que deveriam no entanto ser confiadas ao analista, pois o grupo não está preparado para resolver esse tipo de problema. Não deveríamos oferecer à coletividade um “eu “ incompleto, deprimido, caótico, confuso, doente ou ferido”

Respondendo a uma pergunta sobre a dificuldade de ler a obra de escritoras como Sylvia Plath e Joan Didion, em uma conferência, em 1972:

“Talvez você seja como eu e não se interesse por escritoras que tratam apenas do desespero, da destruição, da falta de esperança. Não estou me referindo aqui ao valor literário. Foi por isto que não quis ler o livro de Simone de Beauvoir sobre a velhice. Para mim, ela admitiu a noção cronológica de idade, enquanto eu acho que em matéria de idade não há generalização possível. A idade também é um fenômeno psicológico. Certas pessoas lêem para confirmar o seu próprio desespero. Outras para se curar.”

>>POR: ANAÏS NIN<<

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