domingo, outubro 16, 2005

DEGUSTAÇÃO

Humm... Um aroma afrodisíaco me desperta a gula vorazmente. Desperta em mim, animal até então hibernante, a fúria de um carnal deleite que me faz ir à caça com gana e pressa. Eu, besta salivante de papilas gustativas dilatadas, afinando o faro em delirios crus, entumesço meu olhar mamífero. Empertigada até a alma, percebo meu pelo eriçar, meu dorso a gotejar suor e, num suspiro angustiado e quente, alcanço o ranço da comida com garras felinas. Degustação. Um gosto intenso na boca. E eis que a língua reverbera impregnada de desejo, desejando mais e mais o alimento. Beijo e frêmito... Ahh!

Os mexilhões, todos os mexilhões vivos do mar hão de mexer-se em bocas CRACK e agarrar-se aos dentes como ás rochas, deixando um burburinho espumoso nas línguas de paladar feijão-com-arroz!

Nunca quiz os caquis, nem as frutas catequizadas pelos jesuítas do descobrimento. Bananas quiçá irão constar nos anais, mas o abacaxi não: vá de retro, ananás!

Frutas frescas num afresco da Capela Sistina. Era a bela figura de uma santa fazendo a colheita, a vindima. Um cacho de uvas à mão, na outra mão uma cesta. Já vinha o padre com sede a dar sermão, quando com seu vinho em punho evoca a besta, a derramar sobre a pintada parede o cunho das sementes de profanação

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