
Semana passada uma outra colega, Emília, essa sim bem chegada a ela, fez com que eu reparasse em sua ausência. Disse-me que Sabrina estava há dias internada em uma clínica com problemas no sangue. Anemia profunda. De chofre, comecei a rememorar uma ocasião em que ela aparentava cansaço extremo, queixando-se para nós no banheiro da pressão baixa, com aquela palidez encerando o rosto. Até comentei com minha mãe na hora do almoço, enquanto despejava feijão em meu prato, sobre a alimentação boa para quem era anêmico, citando o caso da amiga doente.
Na aula seguinte, a notícia. O professor, que costumava escrever no quadro um "Boa Tarde", não pôs dessa vez. Estranhei. Na verdade, estranhei desde que cruzamos pelos corredores e algumas pessoas, com ele, não responderam ao meu cumprimento, meio cabisbaixas. Ele falou, secamente, depois que nossa parceira estava morta. A turma estava em silêncio, ao contrário dos outros dias. Não concluimos as atividades, so alunos foram liberados mais cedo e a Internet nos laboratórios disponibilizada. Fiquei sentada num canto, com uma bola de choro guardado na garganta, olhando para o nada.
7 dias transcorreram sutis, quando Emília me chamou à missa. Disse que iria. Era comecinho de noite, havia chegado no fim, quando a avistei em prantos andando ligeiro de volta para casa. Chamei por seu nome e dei-lhe um forte abraço. Ela me tomou com delicadeza as mãos, levando-me para conhecer a família de Sabrina. Mais abraços, pois não sabia o que dizer. Fui apresentada às tias, ao noivo... Lembro que Sabrina havia levado um bolo feito por ele numa festinha que organizamos antes das férias de Julho. Julho foi também o mês de aniversário dela, dia 15 completou 24 anos. De vida. O mais forte foi ter visto sua mãe na porta da Igreja. Nossa, como se pareciam! Ela não tirou os olhos de mim por um bom momento. Talvez vislumbrasse a filha através da minha timidez. Despedidas...
Adentrei lá, suave, pelo corredor entre os bancos. Aproximei-me mais do altar, quando a luz vermelha indicando uma presença me impeliu a ajoelhar. Olhos molhados, mãos postas, uma singela oração à alma dela. Agradeci por estar viva, rogando benesses, bençãos ao por vir. Sai de lá em paz, ainda embalada pelo som de um cravo que tocava a Ave Maria.
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