quinta-feira, abril 27, 2006

A menina do aquário sai para velejar



Não vou dizer que hoje eu acordei assim ou assado. Só sei que hoje algo acordou em mim. Não sei ainda ao certo, mas estou tentando descobrir. Tem a ver com o propósito da minha existência, tem a ver com um desentalar de dentro. Dar um tempo ao tempo que acumulei e me anulou tanto. Se sou incoerente, tenho consciência disso, então já não mais o sou, não me ligo em fazer conecções perfeitas, pois sou paradoxal. Incomoda o fato de eu não conhecer minha própria cidade direito, que dirá o mundo. E daí? Só acordei com vontade de acordar, mesmo sendo tarde demais pra arrancar o sono que me anda consumindo a vida. Litros de enfado derramado sobre um móvel que nunca se move, na cama. Antes que apodreça, arrancar o sonho morno das entranhas e estranhar o que há lá fora. Amanheci com vontade de ser cínica, de sacanear comigo mesma, com toda uma integridade capaz de desmascaramento. Com coragem de extirpar o medo e gritar quando necessário. Já está mais do que na hora experimentar a vida, aliás, já passa da hora. Sinto que no fundo da minha caretice encontro uma anarquista, que no meio dessa timidez infundada há uma artista dada aos sentimentos apaixonados. Acordei com ânsias de pôr meu coração na voz. Estou cansada de descansar sob a sombra do mais do mesmo de mim. Quero calar aquela boca que nunca fala. Quero morrer e reconstruir. Sofrer o bastante para ter mais chances de felicidade.

Não sei o que possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido como um menino brincando à beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por descobrir à minha frente.
Isaac Newton

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