O cinza sisudo, com os pés fincados no chão, ainda espera por sentar-se algum adorno humano em seu colo duro e quase secular. Por muitos anos, o calor dorsal de enamorados deixara o seu cheiro ali a escorrer pelas frestas mal aparafusadas. Todas as tardes, os velhinhos cumpriram o ritual de alimentar pombos aos punhados trêmulos, cheios de grãos. Efêmeros, todos vão, todos se foram daqui. Nem mais há os jornais lidos, esquecidos, forrando o frio tão disputado dos mendigos. Agora, o assento assiste às lembranças contidas em sua madeira amedrontada pelo vandalismo do tempo. As crianças que aqui tomaram os seus sorvetes, levaram para bem longe a leveza dos seus corpos pequeninos, de perninhas dependuradas e balouçantes, que logo alcançaram o chão e correram na direção colorida do vento. Abandono. Mas o banco continua, bebe a chuva, risca o branco do vazio, seca ao sol, fita a curva da lua, enquanto a ferrugem traça todo um percurso horizontal, corroendo-o de saudade. Paulatinamente, desmorona o encosto em tiras. Aos poucos, atira-se ao solo suas próprias sementes. Nenhum pombo aparece. Resiste até certo ponto, e a erva que se põe a crescer em redor observa o seu fim. E aquilo que servia de descanso a toda gente, cansou de esperar, de repartir espaços. Repartiu-se ao meio, em meio às pedras da eternidade do que já houvera antes. Descansou, enfim.
quinta-feira, janeiro 26, 2006
A ESPERA
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Um comentário:
Olá Paola. Nossa... 'A Espera' é algo muito belo. Triste, mas belo. Isso é possível. Gostei do blog. Muito limpinho, organizado e ... belo. Muuuuito belo. Beijo e mente tranquila sempre! Ah... Vito Corleone é meu verdadeiro pai :)
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