sábado, novembro 05, 2005

CAINDO NA REAL

Tempos atrás acordei com uma estranha sensação, com um insuportável peso em meu coração e em minha consciência. Com o passar do tempo, esta angústia só aumentava e revelava em mim a maior inquietude. Sem entender o que se passava comigo, resolvi ligar a televisão para ver se eu me desligava por alguns instantes da realidade desses dias atrozes. Sentia-me segura com um controle remoto nas mãos, afinal a ficção às vezes mostra um mundo perfeito, cercado por um balsâmico mar de rosas por quase todos os lados a banhar as feridas da solitude, no embalo da nossa letargia aliviada. De repente fiquei trêmula e deixei o controle cair no chão. Atônita, passei a observar a imagem de pessoas, de jovens como eu, em protesto a caminhar nas ruas e erguendo cartazes com mensagens de paz. Aquilo tudo diante de mim parecia passar em câmera lenta. Silenciosamente, indaguei-me a respeito do que eu fazia naquele momento, até que um bombardeio de conclusões me atingiu de forma violenta. Aos poucos saía daquele entorpecimento e, feito um súbito clarão, percebi que todo o pesar que me abatia era uma manifestação inconsciente do meu medo real. Desde aí, ocorreu-me uma revolução interior e tive certeza de que o mundo ao qual pertencia estava doente. Assim, resolvi deixar meu ego um pouco de lado e a me preocupar com o todo.
Decerto você já se sentiu angustiado pelo próprio torpor ante a realidade, não é verdade? Se sim, convido-o agora a refletir sobre nossa maneira de encarar o mundo para que tentemos ao menos abandonar antigos paradigmas, começando a mudar nas pequenas ações cotidianas. Todos precisamos fazer algo, pois por mais que fiquemos alheios aos acontecimentos, nosso sentimento de inutilidade só é acentuado e a nossa participação como cidadãos e seres humanos engajados é nula. E, mesmo sem nos apercebermos, estamos contribuindo para nossa própria ruína e caos mundial. Direta ou indiretamente somos responsáveis pela guerra e por outras mazelas sociais. Não cabe a nós depositar a culpa unicamente nos governantes, pois somos nós que fazemos nossas escolhas. Todos temos de fazer alguma coisa, não importa o quê - pintando o rosto, mexendo no cabelo, divulgando a arte, cooperando com o próximo - fazemos parte de tudo isso!

"Pense globalmente e atue localmente", um clichê? Não seja por isso: "o poder está dentro de você, a força em suas mãos", eis outro! Na verdade, está na hora de removermos o controle remoto e as ondas perniciosas da mídia a fim de lutarmos em prol do nosso planeta tão violentado e que hoje se revolve contra nós, enviando forças destrutivas como respostas da natureza. É bom crer que ainda há tempo de ajoelhar... Esperança!

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